quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O sistema feudal da Zara

Antes de relembrar um fato marcante e recente no mercado brasileiro, é preciso saber a história de uma das grandes marcas do Grupo Inditex. A Zara é uma rede de lojas de roupas e acessórios voltadas ao público feminino, masculino e infantil. Foi fundada em 1975 na Espanha por Amancio Ortega e Rosalía Mera e, atualmente, a marca já está presente em mais de 1.500 lojas em 78 países. No Brasil, há mais de 340 lojas espalhadas pelo território nacional. E o patrimônio do casal foi avaliado pela Forbes em 2,85 bilhões de euros.

Em 2007, a Business Week publicou o ranking das 100 marcas mais valiosas do mundo, segundo pesquisa feita pela Best Global Brands e encomenada pela consultoria Interbrand em parceria com a revista americana. A Zara esteve colocada em 64º lugar. Digno de uma marca com presença mundial e muito bem vista por seus consumidores, já que apresenta um modelo (fast fashion) que agrada as classes mais abonadas por um preço mais acessível e possui uma grande diversidade de produtos que vão além de roupas, pois hoje são encontrados também acessórios, bolsas, sapatos, perfumes, óculos, entre outros.

A maior parte dos artigos ofertados nas lojas da Zara no Brasil são importadas, mas por causa das dificuldades no processo de exportação, a marca passou a utilizar fornecedores locais. E parece até que voltamos à Idade Média quando os camponeses ainda existiam e os senhores feudais ganhavam rios de dinheiro com seu trabalho e serventia. A marca espanhola apostou originalmente em uma cadeia de lojas de baixo custo, o que indica que também deveria ter uma linha de produção com valores mais baixos. Mas isso não significa que poderia pagar um salário, se é que pode-se chamar assim, tão inferior à base do mercado. E pior, utilizar mão de obra escrava por meio de cidadãos bolivianos que viviam em condições desumanas e trabalhavam mais de 10 horas por dia para ganhar entre R$ 0,12 e R$ 0,20 por peça produzida.

Quando esse fato veio à tona em agosto deste ano, a marca foi bombardeada pela imprensa e também nas redes sociais. Esteve nos Trend Topics do Twitter por vários dias e a hashtag #Zara atingiu o ápice de comentários negativos em menos de uma hora. Mais do que um modo de organização baseada nas relações servo-contratuais como o feudalismo, a empresa não pareceu dar muita importância ao caso. Apesar das alegações de que a os executivos-chefes da companhia não sabiam que os funcionários de seus fornecedores estavam passando por uma situação tão horrenda, pode-se interpretar pelas notícias publicadas que o máximo ocorrido foi uma reunião de gerencimento de crise para conter o assunto principalmente no ambiente virtual, pois com certeza o proprietário da marca não perdeu horas de sono pensando num fato “isolado” no Brasil.

Há quem diga que as roupas da Zara têm uma qualidade muito baixa e as comparam com o que é vendido por varejistas como C&A, Riachuelo e outras do setor, mas o fato é que apesar de na semana do ocorrido, e até dias depois, as vendas terem caído, a marca é tão forte que conta com seus compradores assíduos e que não se deixaram abalar talvez pelo “sensacionalismo” das notícias. É claro que a empresa é passível de uma falência, mas como toda organização não é perfeita e tomou suas providências para manter seu público.