quinta-feira, 30 de junho de 2011

Língua conciliadora

Fato curioso que, em qualquer época, em qualquer região, não existe registro de uma sociedade humana que não tenha desenvolvido religião, arte e linguagem de alguma forma. Varia-se no formato, na maneira de se registrar, nos símbolos utilizados e nos materiais que servem de base para os registros, mas sempre existe um código de sons e sinais que traduzem pensamentos, ações, objetos e sentimentos. E mais além, a maneira de se compor essa comunicação registra também detalhes culturais e da personalidade dos povos que a praticam.

A língua portuguesa falada no Brasil representa bem isso, miscigenando elementos de várias outras. Enquanto em Portugal e nos países da África que falam português a tendência seja de ‘aportuguesamento’ dos termos, no Brasil valeu-se a regra de que somar é melhor.

Em São Paulo, então, essa faceta brasileira está mais presente. Influenciada pelos imigrantes estrangeiros e de outros cantos do país, a capital ressoa por suas ruas sotaques dos cinco continentes.

Nada mais natural que abrigar, no coração da cidade, um museu que abrigue, resgate e exiba não só o histórico de como essa formação se deu, mas também as inúmeras possibilidades que ela permite. O Museu da Língua Brasileira sustenta uma faceta da vida humana que está em constante evolução. Guarda em seu interior um bem que comumente não damos o devido valor, embora utilizemos todos os dias. O projeto, aliás, foi pensado justamente para agregar valor à língua, reconhecendo seu status de patrimônio.

Ao fazer os visitantes identificar o quanto é valiosa a língua, o quanto ela nos distingue de outros povos e, em contrapartida, o quanto ela pode unir ao adotar expressões de regiões diferentes, o museu é co-responsável por revelar um dos aspectos mais interessantes da interação entre pessoas.

Quem é que, depois de percorrer os corredores e assistir ao vídeo do museu não sai dali pensando “puxa, que bacana o meu idioma”? Um conceito bem diferente do que pensamos quando sabemos que, apesar de contar com muitos ‘falantes’, o português é pouco falado pelos países mais importantes do globo. Na nossa própria América Latina ninguém mais o utiliza, ao contrário do espanhol, que permeia toda ela.

O Museu da Língua Portuguesa é extremamente feliz, em toda sua concepção, por fazer valer as idiossincrasias que compõe nossa linguagem. Tanto no seu argumento de existência quanto na concretização do projeto, que conta com depoimentos e exemplos dispostos de maneira agradável e, apesar de didática, muito interessante, despertando o desejo de permanecer ali, absorvendo todas as informações, mesmo em quem fugia das aulas de português na escola.