quinta-feira, 17 de março de 2011

A classe popular vai à universidade

Uma pesquisa do Data Popular mostrou que entre 2002 e 2009, o número de estudantes de graduação passou de 3,6 para 5,8 milhões. Dentro do número de matriculados, 58% pertencem à classe C e somente 19% representam a classe mais rica do país. A classe D representa 15% dos futuros profissionais que sairão das universidades. Parece que é a hora e a vez da classe popular ocupar as salas de aula.

A chegada da classe D às faculdades aconteceu com maior vigor a partir de 2004, por conta do Programa Universidade para Todos (ProUni). Outros fatores, como a facilitação do crédito e a melhor distribuição de renda também foram decisivos nesse panorama.

Algumas universidades particulares vêm investindo neste nicho de mercado. Um exemplo é a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, que há pelo menos 30 anos recebe estudantes de classes mais baixas por meio de mensalidades com preços acessíveis.

A Estácio se preocupa em adaptar o aluno ao ensino, por exemplo, com o projeto “Gabaritando”, que trabalha com a defasagem dos estudantes em disciplinas como matemática e português. Outro aspecto que favorece a entrada dos alunos é o fato do material didático ser totalmente fornecido pela faculdade e inserido na mensalidade.

Em São Paulo, o Centro Universitário UniÍtalo, na zona sul, oferece cursos de madrugada (das 23h à 1h45), pela metade do preço. O período é ideal para um público-alvo que precisa trabalhar o dia inteiro para pagar os estudos e ainda se sustentar. Dos 10 mil alunos da instituição, 1,1mil assistem as aulas de madrugada.

Nicho de mercado - Apesar do ProUni e de programas de bolsas de estudo, as instituições de educação mais tradicionais não estão dando conta das classes populares e têm mostrado pouco interesse em atrair esse público. Em parte, porque o perfil do novo aluno é diferente e, geralmente, não conta com uma boa formação escolar que viabilize a entrada nessas faculdades. Mais ainda, isso demonstra um pouco do que Theodore Levitt apresenta em seu texto “Miopia em Marketing”, que explicita a cegueira das empresas quando tratam dos seus negócios sem acompanharem as mudanças do mercado.

Com isso, será que o momento representa uma oportunidade para essas marcas de ensino menos valorizadas ganharem relevância? No caso da Educação, a grande quantidade de alunos graduados por uma instituição pode significar que ela tem representatividade no mercado, assim como acontece com as empresas que vendem commodities?

As respostas das duas perguntas estão atreladas. O cenário aparece sim como uma chance de novas universidades ganharem destaque entre a população, independente da classe social. Porém, no caso da formação de profissionais é preciso levar-se em conta a qualidade com que eles chegam ao mercado. Além disso, será preciso verificar se essas instituições de ensino conseguirão progredir no que diz respeito à valorização da sua marca e se investirão para isso, contrariando a visão de que elas são meros “caça-níqueis”.
Por Rachel Sciré