segunda-feira, 2 de julho de 2012

O imperialismo cultural na construção da marca-país EUA


Ao avaliar como são criadas e exploradas as políticas de promoção da marca-país Estados Unidos da América, é possível identificar como as organizações daquele país adotam conceitos de imperialismo cultural com o objetivo de ampliar a influência dos EUA sobre as demais nações.

Definido pelo teórico da comunicação Herbert Schiller como “conjunto de processos pelos quais uma sociedade é introduzida no sistema moderno mundial, e a maneira pela qual sua camada dirigente é levada (...) a moldar as instituições sociais para que corresponda aos valores e estruturas do centro dominante do sistema”, o imperialismo cultural foi uma das formas adotadas pelo próprio sistema político norte-americano para disseminar e justificar a propagação de seus valores, ideais e doutrinas aos demais países.

Este cenário é identificado em momentos de fortes tensões políticas, como durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos utilizavam a cultura como elemento de propagação das relações capitalistas, exportando filmes, músicas, seriados e demais produtos culturais que justificassem o movo de vida norte-americano. Contudo, este movimento persiste ainda nos dias de hoje, mesmo sob novas condições políticas globais, sobretudo em países em desenvolvimento.

Quando a Disney comunicou, em 2007, o investimento para lançar versões latino-americanas de uma das produções de maior audiência dos Estados Unidos, o seriado Desperate Housewives, um dos fatos que mais se destacou foi a condição, estabelecida em contrato com as emissoras que assumiram a produção local do seriado, para que todas as alterações no roteiro original fossem aprovadas pela subsidiária norte-americana. Esta condição tinha como intenção garantir que a realidade do seriado, que usa altas doses de humor negro para contar uma história de mistério envolvendo uma vizinhança aparentemente pacata e feliz, inspirada no american way of life, fosse assegurada nas versões produzidas para os países da América Latina.

Nestas condições, cada capítulo seguia seu correspondente norte-americano a cada diálogo, marcação de cena, plano de filmagem, trilha sonora. Adaptações eram realizadas apenas para descrever o cenário do país local, mas sem avaliar o impacto disso sobre a cultura daquele país. Por exemplo, o quadro do presidente republicano George W. Bush na residência da dona de casa Bree Vam de Camp foi substituído por uma reprodução do quadro Grito da Independência na residência da versão brasileira – como se fosse comum brasileiros possuírem reprodução de quadros políticos em suas decorações! Situações semelhantes aconteceram nas versões produzidas para a Argentina, Equador, Colômbia e México, assim como para a comunidade latina que vive nos Estados Unidos.

A potente indústria do entretenimento norte-americana já foi utilizada com viés político e de promoção da cultura e do estilo de vida dos EUA em determinados momentos da história, com o nítido sentido político de manter a hegemonia norte-americana sobre determinado país ou região. Contudo, o imperialismo cultural ainda se perpetua nas produções e parcerias culturais, quando há a intenção de manter tudo o que já foi construído sobre a imagem dos EUA ao longo das décadas.