segunda-feira, 2 de maio de 2011

Iniciativas sustentáveis da Camargo Corrêa perdem espaço diante de rebelião trabalhista

O grupo Camargo Corrêa é um dos maiores conglomerados do país e atua em diversos ramos, como engenharia, construção, calçados, têxtil, geração e distribuição de energia e concessão de serviços públicos. Depois de ter seus executivos envolvidos em um escândalo por remessa ilegal de dinheiro ao exterior e suspeita de doações ilegais a partidos políticos, em 2009, a empresa sentiu outro abalo em sua reputação este ano.

Em março, uma rebelião de funcionários paralisou as obras e destruiu 70% dos alojamentos e veículos do canteiro de construção da Usina Hidrelétrica do Jirau, uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os trabalhadores se queixavam de violência física por parte de funcionários da Camargo Corrêa e que eram obrigados a comprar produtos a preços exorbitantes no canteiro da obra.

Outros problemas relatados diziam respeito às condições de trabalho, à falta de infraestrutura nos alojamentos, ao não consentimento das folgas e ao excesso de horas extras, que não eram devidamente remuneradas. Cerca de 22 mil trabalhadores participavam das obras da usina.

A ironia é que pouco tempo antes, a construtora Camargo Corrêa e o Instituto Camargo Corrêa (ICC) haviam apresentado em Porto Velho (RO) três programas sociais a serem implantados na região da Usina Hidrelétrica Jirau. O objetivo era reforçar ações sociais em prol das crianças, da gestão de escolas públicas e do empreendedorismo.

Ainda que os projetos não fossem destinados aos trabalhadores, eles provavelmente foram ofuscados pelos protestos e a credibilidade da Camargo Corrêa como uma empresa cumpridora dos direitos trabalhistas foi colocada em xeque.

O envolvimento com maus tratos e condições precárias de trabalho desautoriza qualquer discurso sustentável, por mais que a empresa possua um Instituo (ICC) responsável por investimentos sociais, prioritários onde as unidades do grupo estão presentes. Além disso, o grupo assinou em 2006 uma carta de compromisso com a sustentabilidade, disponível em seu site (www.camargocorrea.com.br) e que reforça o papel da companhia em contribuir para uma sociedade mais justa.

Depois do ocorrido, o Planalto decidiu mobilizar um contingente da Força Nacional e da Polícia Federal para assumir o controle dos canteiros da construtora na usina hidrelétrica de Jirau e a presidente Dilma Rousseff pediu que a retirada e a acomodação dos trabalhadores fossem feitas com segurança. O Governo Federal ainda garantiu que irá tomar medidas para que a situação não se repita em outras construções do PAC.

Com a destruição dos alojamentos, a construtora foi obrigada a pagar transporte, alimentação, verbas rescisórias e ajuda de custo aos operários que tiveram que deixar o canteiro de obras depois do levante. A Justiça do Trabalho ainda instalou uma vara itinerante em Jirau para análise das reivindicações dos trabalhadores.

Por Rachel Sciré