quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ingenuidade ecológica

A Câmara Municipal da prefeitura de São Paulo acaba de vetar o uso de sacolinhas plásticas no comércio. Iniciativa nobre. Ponto para os ecologistas de plantão. Melhor ainda: ponto para o marketing ecológico.

Usar a bandeira da sustentabilidade faz o consumidor ter a estranha sensação de que está participando de uma campanha para salvar o planeta – ainda que, no fim das contas, ele pague mais e tenha um impacto ambiental ainda maior. Aproveitar-se do que classifico como ‘ingenuidade alheia’ mostrou-se uma estratégia eficaz para agregar valor às marcas.

Afinal, quem quer ser co-responsável por engasgar tartarugas marinhas (mesmo sabendo que não há mar na capital paulista)?

O fato é que as sacolas de papel gastam cinco vezes mais água (que poderia ser utilizada para irrigar plantações, para limpeza, ou até, pasmem!, o consumo humano) e não podem ser reaproveitadas. E vão custar alguns centavos a mais para o consumidor. Sim, pois o valor que os mercados gastavam com as malvadas sacolas plásticas e doravante economizado irá permanecer nos bolsos dos donos das redes – nunca no seu ou no meu. Assim como o lucro pela venda daquelas ecobags que machucam a mão a todo mundo que esquecer de levar a sua de casa.

Mas ok. Tudo em nome de ter um planeta sustentável. Aposto que essas embalagens de papel virão com o aviso ‘reciclável’ em suas laterais. O que é um outro conceito de marketing ecológico que leva à sensação de que estamos diante de algo imaculado, puro, natural e belo.

Bem, ‘reciclável’ é uma coisa; ‘reciclado’ é outra. Praticamente todas as embalagens são de alguma forma recicláveis (com exceções como as que acondicionam produtos de cheiro forte ou tóxicos). Basta que se recicle! Na contrapartida, quem compra algo cujo invólucro poderia ser reutilizável e o descarta na lixeira comum não contribuiu em nada com o meio ambiente. Mas ali, na hora da compra, quem é que se lembra que vai jogar boa parte daquilo que compra no lixo?

O mais curioso é ver que o que mais se encontra com o termo ‘reciclável’ é de papel. Como se ainda se derrubasse árvores para fazer celulose. Hoje, a esmagadora maioria dos fabricantes se utiliza apenas de madeira de reflorestamento. Resumindo: as empresas preferem gastar mais para imprimir em um papel horroroso que não absorve direito a tinta, cujo processo de fabricação consome litros e litros de água potável com o objetivo de não salvar uma árvore da natureza sequer.

Inteligente? Sim, porque quem quer que reconheça aquele bloco meio bege com aparência de sujo vai pensar “Nossa, eles são conscientes e sustentáveis”. Faz muito mais sentido montar blocos de anotação com folhas usadas cujo verso esteja em branco.

No caso das sacolas, vamos ser obrigados a ressuscitar o velho carrinho de feira para não precisar amontoar frutas e latas. E levar os produtos de limpeza, ali, um ao lado do outro, coladinhos aos alimentos.